destaques
destaques
100 anos de Cinema de Animação Português
Carta branca a Margarida Madeira
Um centenário do cinema é capaz de inspirar descobertas, ver em perspectiva, ou mesmo ver com outro olhar. No ano em que se assinalam 100 anos do cinema de animação em Portugal, convidámos a realizadora Margarida Madeira a criar uma lista que tenha títulos emblemáticos e novos autores para um programa em sala de cinema (claro!).
Dos designs minimalistas, linhas tremidas, à pixilação e ambiência tecnicholor, talvez os filmes mostrem como os realizadores têm vindo a explorar várias formas de expressividade no cinema de animação português. A diversidade de estilos é algo característico da nossa animação?
Não diria que é uma caraterística exclusiva da animação portuguesa mas é sem dúvida algo que a carateriza. Se num passado recente a animação portuguesa esteve mais associada a filmes em 2D, talvez com o aumento da oferta formativa no nosso país e com o avanço natural da tecnologia, assiste-se hoje a uma variedade de técnicas e estilos cada vez mais vasta. Basta ir a uma sessão de curtas metragens portuguesas (formato onde naturalmente há mais espaço para a experimentação) num festival como a Monstra ou o Cinanima e constatamos isso. Já não se trata de dominar uma só técnica, mas sim de explorar ao máximo a sua potencialidade combinando-a com outra(s).
Há algo cada vez mais trabalhado na animação: a possibilidade de criação a partir de testemunhos e pessoas. Podemos falar de uma tendência consistente? Ou, se quisermos dizer de outro modo, de que forma as histórias e contextos reais podem ser desafiantes na criação de projetos autorais?
Como dizia alguém: A realidade supera a ficção. Eu acho que não há nada mais rico que testemunhos reais e por isso considero que são a melhor matéria prima. Através das histórias de outros, interpretando-as e dando-lhes uma intenção, podemos contar as nossas próprias histórias. Identifico-me muito com essa maneira de criar e vejo que é uma tendência comum a muitos autores.
Por outro lado, também acho que acaba por ser um modo de contar histórias que desperta o interesse do próprio espetador. Parece que há em todos nós aquela pequena satisfação quando vemos o “baseado numa história real” ou algo do género. Talvez seja porque nos leva a entendê-la com outra intensidade. A meu ver, os autores só ganham em tirar partido desta abertura.
Há a dificuldade crónica do cinema português encontrar o seu público. De que forma o cinema de animação poderia estar acessível, para as pessoas poderem ver nas salas?
As primeiras longas metragens de animação portuguesa datam apenas do ano passado. Para as salas de cinema esse é um formato mais simpático de exibição, o que é uma pena. Até então eram poucas as vezes que alguém se dignava a programar uma sessão de curtas de animação no cinema, fora do contexto dos festivais. Como não há esse hábito (e aqui falo das curtas no geral) é difícil que cheguem ao grande público. Já na televisão, o programa Cinemax do Tiago Alves, por exemplo, é uma excelente fonte de divulgação mas é só um programa, no meio de tantos canais...
Recentemente, com a nomeação do filme do João Gonzalez para os Oscar, assistimos a uma atenção muito especial dos media à animação portuguesa. Isso fez com que o público em geral ficasse a saber que se fazem coisas (muito boas) no nosso país e que a animação em Portugal não acabou no Vasco Granja :) Foi um passo muito importante. Diria que teria sido inteligente aproveitar essa onda para programar mais sessões de curtas no cinema ou incluir uma curta antes de uma longa. Estas ideias não são novas, mas infelizmente ainda não se difundiram muito por aí.
______________________________
Para olhar atentamente, em cada filme
por Margarida Madeira:
SURPRESA de Paulo Patrício
A utilização de técnicas diversificadas com um propósito
O RAPAZ E A CORUJA de Mário Gajo de Carvalho
Dentro da mesma técnica (2D), perceber os vários materiais utilizados
AMÉLIA & DUARTE de Mónica Santos e Alice Guimarães
A excelência da técnica da pixilação
CAMPO À BEIRA-MAR de André Ruivo
A não necessidade de desenho/animação virtuosos para expressar uma ideia
SLOW LIGHT de Przemyslaw Adamski e Katarzyna Kijek
A originalidade do conceito
Margarida Madeira
Nasceu em Canas de Senhorim, Viseu, e estudou na Universitat Pompeu Fabra - Mestrado em Animação, Barcelona (2010–2012), Akademia Sztuk Pięknych w Krakowie im. Jana Matejki como estudante ERASMUS, Cracóvia (2008- 2009), Universidade do Porto, Faculdade de Belas Artes, Licenciatura em Design de Comunicação (2006-2010).
Co-autora e autora de filmes de cinema de animação como Olinda (2012), Dona Fúnfia (2014) e Os Prisioneiros (2014), curtas-metragens seleccionadas e premiadas em vários festivais internacionais de cinema. Actualmente desenvolve projectos de animação com a Pickle Films, produtora que criou em 2013.
©CINE CLUBE DE VISEU, 2023.
Rua Escura 62, 3500-130 VISEU.
(+351) 232 432 760
geral@cineclubeviseu.pt cineclubeviseu.pt facebook.com/ccviseu